terça-feira, julho 24, 2007

Um dia, passeando de noite pelas pontes da cidade, encontrou de tarde um rapaz triste parado mesmo no meio da ponte. Ele chorava três lágrimas por segundo e estava, pobrezinho, vestido de verde, o que é já de si bastante agressivo. Tapava a cara com as duas mãos e soluçava, desesperado, fungando o mundo para dentro e tremendo de não conseguir manter-se na mesma posição um só segundo, um desses segundos de três lágrimas que era assim que se contavam.

Ela era muito bondosa, sempre fora, coração de manteiga. Passou-lhe a mão pelos ombros, beijou-lhe a testa e tocou-lhe no cabelo num “Pronto, pronto…” muito maternal. O rapaz soluçou com mais força, apoiando a cabeça no ombro dela, todo vidrinho de cheiro, e enchendo-lhe a camisola de lágrimas e ranho. Não a apertava, estava assim, de braços caídos, todo derrotado pela hemorragia que lhe saía dos pulmões para os olhos, tuberculoso de desesperança.

“Não faz sentido. Já nada faz sentido. Perdi a esperança e quero morrer”, disse ele num daqueles uivos melodramáticos de que as senhoras gostam tanto nas novelas. “A minha vida acabou e ainda sou tão novo”. “É porque és”, pensou ela a olhar-lhe para os vinte e cinco anos estampados na cara.

Acendeu um cigarro e perguntou-lhe se queria. Ele disse que não fumava.

Tirou a sua garrafa de bolso do interior do casaco e perguntou-lhe se queria. Ele disse que não bebia.

“Pois, assim é difícil”, disse ela, pensando se o atentado ali era morrer ou ficar. Mas decidiu-se: disse-lhe “Confesso que isso, por aí, não me parece estar muito famoso” e, ao virar costas para ir embora, ouviu “Hei-de encontrar-te lá em cima” e, passadas cerca de quinze lágrimas, “splash”. “Nem tive tempo de lhe dizer que estão à minha espera lá em baixo..”, pensou, aborrecida.

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

volta, estás perdoada

novembro 06, 2007  

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